Gilberto Gil

Mundo Mudar

Um dia desses, indagado sobre qual das modernas comodidades tecnológicas eu não dispensaria, respondi de pronto: a energia elétrica.

Obviamente, qualquer um de nós - seres da cidade de fios elétricos tecida - conseguiria se adaptar a um cotidiano sem as provectas turbinas hidráulicas, os clássicos motores a diesel, as novíssimas termoelétricas a gás ou os belos cataventos e as reluzentes placas solares que começam a surgir em nossa paisagem, veríssimos móbiles de força e luz. Obviamente daríamos um jeito de viver sem o concurso mágico dos volts, watts e kvares que acendem luzes, refrescam ares, movem guindastes e teares e nos cercam, enfim, de todo esse dia-e-noite de feitiçaria elétrica com essas entelequias da techné a nos aprofundar nos mistérios do reino encantado da energia.

Eu poderia, sim, forçado pelo silenciar dessas tantas e várias usinas de hoje em dia, voltar ao recato da minha cidade pequenina, lá em casa, onde o aparelho de rádio alimentado a acumuladores (baterias) - recarregáveis pelos dínamos dos motores dos raros caminhões ali transitantes - era o primeiro e único eletrodoméstico disponível; ou lá na rua, onde os raros postes envergando lampiões a querosene, em noites tão silentes, eram a única iluminação pública possível. Eu poderia, sim, forçado pelo eventual  silenciar de Itaipu, Tucuruí, Três Marias, Ilha Solteira e Xingo, voltar a ver a luz prateada do luar varando a telha de vidro do meu quarto de dormir, como lá em Ituaçu, a mesma telha de vidro através da qual vi o meu primeiro eclipse solar - nada mais que o sol a se esconder por detrás da lua, em pleno meio-dia, e, em pleno meio-dia o cair da noite como se já noite mesmo fosse, e eu, menino assustado a ver, pela telha de vidro, o mundo mergulhar na escuridão e, então, já não haver o que ver senão um círculo de luz através de uma chapa de radiografia (meu pai, médico, guardava algumas chapas de radiografia trazidas, de lembrança, da Cidade da Bahia, ilustres exemplares da nova tecnologia. Fitar o eclipse através delas era só para o que serviam as chapas de radiografia, ali, aquele dia, naquele sertão tão distante)!

Eu sei que, se forçado, poderia voltar àquele dia, àquele meio-dia de um eclipse solar de um tempo em que luz elétrica não haveria.  Mas, não. Não houve nem haverá o definitivo apagão nem a nova cidade vai rever o vaga-lume e o lampião. As usinas elétricas são meninas ecléticas que só andam na moda e se moldam ao sonhar e o sonho do mundo é uma lâmpada acesa e um motor a girar e eu não tenho outro mundo para onde me mudar e tudo que me resta é mudar com o mundo e com o mundo mundar! 

» É impossível contar a história do desenvolvimento do Brasil nos últimos 50 anos sem destacar a participação do BNDES.  Desde a sua fundação o BNDES apóia a implantação do sistema elétrico brasileiro. Financiou, dentre outros projetos, a construção das usinas de Itaipu, de Furnas e de Três Marias e a ampliação de Paulo Afonso. Recentemente, sua atuação foi também decisiva para a superação da crise de energia. 



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