Edson Celestino Cabral

A empresa privada ficara para trás. O processo de Intervenção do Banco Central do Brasil chegara exatamente no momento em que, após 3 anos no cadastro de espera, no dia 23 de dezembro de 1977, Papai Noel me fez acreditar na sua existência: Fui chamado para trabalhar no Banco de Desenvolvimento Econômico.

Que Banco seria esse? O que eu faria trabalhando lá? Qual seria a função desse banco no cenário nacional?

Documentos à mão, fui ao Departamento Pessoal. A ambientação foi rápida. Após os procedimentos admissionais, fui encaminhado para A Gerência IV do DEREC - Departamento de Recursos que depois, passou a se chamar DEMEC - Departamento de Mercado de Capitais (de saudosa memória!!!).

O ambiente era maravilhoso. Pessoas interessantes e divertidas, papo gostoso, enfim, tudo o que eu pedi a Deus. Cantava-se o dia todo. Trabalhávamos muito e nos divertíamos na mesma proporção.

A primeira e a segunda semana correram tranquilas. Depois de ter trabalhado durante 14 anos como datilógrafo de máquinas manuais, tais como Ollivetti, Remington e tantas outras fui apresentado à primeira máquina elétrica da minha vida: Uma "ADLER", pesada, negra, assustadora e velocíssima se comparada às outras citadas anteriormente. Para quem dava 250 toques por minuto na máquina manual trabalhar com máquina elétrica era sopa!

Mas a tranqüilidade foi interrompida com um pedido feito pela Dona Maria do Céu, secretária do Dr. Barcala SUP GF: Hoje você vai datilografar um "DEBÊNTURE". Eu pensei: Meu Deus! Que será isso? Nunca ouvi falar nessa coisa!

Me explicaram que era um título, datilografado em papel moeda e, é claro, valia como dinheiro.

Fui colocado numa sala com uma "ADLER" na frente e um pacote de papel moeda do meu lado direito. Do meu lado esquerdo um rascunho da "DEBÊNTURE" e nos meus ouvidos a frase aterrorizante da Dona Maria do Céu: "NÃO PODE ERRAR" . A partir desse momento o que eu mais fazia era errar. Não posso precisar quantas folhas gastei apavorado com o desperdício de material e aterrorizado com o fato de errar um documento tão importante. O documento ficou pronto quase no final do dia e eu, extenuado, feliz, e impressionado com a quantidade de zeros que datilografei.

Vinte e quatro anos se passaram. Hoje, o computador, num minuto, resolve todos os problemas que, antigamente, levávamos, às vezes, dias datilografando. Os relatórios, em doze vias, para as reuniões de diretoria, os rascunhos, os hieróglifos dos colegas e as infinitas idas e vindas para correções....

Analisando o nome da máquina "ADLER", descobri que, invertendo algumas letras, teremos a palavra "LERDA". Tudo isso é muito engraçado porque, comparado à nossa vida hoje, nós vivíamos uma vida realmente lerda. Já a palavra computador deixa bem claro o que sentimos hoje, vivendo a correria, a violência, a desigualdade e tantos outros problemas da tão sonhada globalização. Será isso progresso?



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