Carlos Heitor Cony

Outros tempos

 "Governador 35"
O chefe de reportagem discara antes o O6, que dava acesso aos telefones de manivela das ilhas Governador e Paquetá. A telefonista atendia e completava a ligação introduzindo um fio num buraquinho de sua mesa. Naquela noite dos anos 50, estava cansada, o marido tivera um troço, levou-o ao Hospital Furquim Werneck para uma nebulização de emergência. Caindo de sono, ela enfiou o fio da ligação na mesa ao lado. Ouviu a resposta:

 "Paquetá, 35". 
Abriam-se duas vagas no mercado de trabalho: uma, na Companhia Telefônica, que demitiu a telefonista. Outra, na redação do "Correio da Manhã", que demitiu o repórter que cobria o aeroporto do Galeão e morava perto, no Jardim Guanabara, na mesma ilha do Governador.  Um avião da Panair tentara levantar vôo, o piloto bobeou na velocidade e deu com os burros literalmente n'água. O "Correio" teve de se limitar à cobertura fria, chupada de outros jornais e das rádios. O repórter alegou que não tinha sido avisado, o telefone dele era "Governador 35", quem atendera no "Paquetá 35" fora um aposentado da Prefeitura que, com excelente razão, mandara o chefe da reportagem tomar naquele lugar.       

Corte para início dos anos 2.000. 
O mesmo repórter está em Roma, conversando com um cardeal seu amigo. Apesar dos pesares, ele dera a volta por cima e prosperara na vida e no ofício, tinha agora um programa de rádio diário, que ia ao ar pela manhã. Em Roma eram 13 horas e ele almoçava com o cardeal no "Alfredo", que caprichara no fettucine que lhe dera fama. O celular do repórter toca. Além, muito além do horizonte, milhas e milhas de oceano no meio, o estúdio em São Paulo o coloca em  escuta. Em apenas cinco minutos, ele terá de comentar a pauta que lhe passam: uma cantora mexicana, presa na Polícia Federal, está grávida de um carcereiro ou de um outro prisioneiro?   O cardeal ouve o comentário do repórter e fica ruborizado. Abaixa os olhos e enfrenta com valentia o majestosíssimo fettucine romano. O repórter desliga o celular. Ganhou seu dia, mereceu seu salário. Mas de repente, a âncora da memória trava a sua tranqüilidade. E se dependesse do "Governador 35", de uma telefonista insone porque o marido tivera uma sufocação durante a noite? Levou o cardeal de volta até a Porta Angélica, no Vaticano. Tinha agora a tarde livre. Depois de pagar tributo a Deus, via cardeal da Santa Madre Igreja, bem que podia sacrificar ao Demônio um pecado que não fosse da gula. A primeira coisa que faz, ao entrar na casa daquela amiga que conhecera em Florença, foi desligar o celular. Ele se sentia docemente plugado, via satélite. Sua mulher, que não morava mais na ilha do Governador mas no Leblon, podia ligar para dizer que estava com saudade. Ou para perguntar o que ele estava fazendo. Bons tempos em que, por causa da deficiência nas telecomunicações, quando não havia satélites nem discagem direta, perdia-se o emprego mas não se perdia mulher. O Brasil melhorara nos últimos 50 anos. Quem não melhorara fora ele. Continuava o mesmo.

» É  impossível contar a história do desenvolvimento do Brasil nos últimos 50  anos  sem destacar a participação do BNDES. O BNDES é um dos principais responsáveis  pela democratização do acesso dos brasileiros aos serviços de telefonia:  apoiou  a  privatização  do  setor  e financiou a significativa expansão das telecomunicações brasileiras.



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