"Desde que me conheço por gente, eu já trabalhava na roça de arroz lá em Araranguá. Antigamente, o serviço era todo feito à mão, tudo cortado na foicinha e carregado em carro de boi no meio de banhado. Como a nossa terra era pouquinha, um dia resolvemos vir para o Paraná e compramos doze alqueires aqui. Levamos cinco dias de viagem até chegar em Santa Terezinha, que na época se chamava Criciúma. Sabe como era a paisagem da região quando nós chegamos aqui? Você olhava pra um lado, era mato, olhava pro outro, era mato também. Você derrubava um alqueire e primeiro fazia a sua casa lá, daí passava um tempo e continuava a desmatar para fazer as roças. Era desse jeito.
Naquela época, não tinha luz, não tinha rua iluminada. Quem podia botava um gerador e transformava energia com o gerador, mas mesmo assim só ligava umas duas horas por noite. O começo da energia aqui foi assim: nós pegávamos um jipinho, oito peões em cima, e aí vínhamos abrindo a picada colocando cerne de madeira, os postes. A gente cortava o cerne e já fazia o buraco ali mesmo. Enterrava, fazia cruzeta em cima e daí veio a fiação, tudo desse jeito: na foice, no machado. Na época de Itaipu, o pessoal falava que ia mudar tudo, que ia dar terremoto; diziam que ninguém ia agüentar o calor do sol. Mas nada disso aconteceu.
Quando veio, enfim, a eletricidade, em 1975, 76, por aí, foi numa véspera de Natal. Nós tínhamos ido para Medianeira e lá fizemos as compras de geladeira, tudo, mas aí os funcionários não vinham fazer a ligação. Nós acabamos tendo que dar um porco para o cara ir lá e bater a chave, para poder ter a energia no fim do ano. Ainda passamos o Natal sem energia. Ela só veio no primeiro do ano, mas dali pra frente não faltou mais. Aonde nós íamos, tinha energia."
>> Este depoimento é parte integrante da exposição comemorativa dos 50 anos do BNDES, realizada na sede do Banco no Rio de Janeiro. A mostra, organizada pelo Museu da Pessoa, reúne histórias de um grande número de brasileiros que tiveram sua vida transformada pela ação do BNDES.