Oldemar Alonso Cordeiro - Ferroviário Aposentado

Nasceu em Paracambi (RJ), em 1924. Filho de ferroviário, morou em Barra do Piraí e transferiu-se para o Rio de Janeiro com 17 anos. Trabalhou como ferroviário na Estrada de Ferro Central do Brasil de 1942 a 1977, quando se aposentou.

"Nós somos em dez irmãos, praticamente todos ferroviários: três maquinistas, um cabineiro, um agente de estação. Meu pai mesmo era torneiro da Central do Brasil. Já de criança, em Barra do Piraí, a gente fazia a locomotiva de barro, vagão, tudo direitinho. Pegava carretel, cortava, fazia as rodinhas e puxava. A gente comia e bebia estrada de ferro, só se falava naquilo. Quando fiz dezenove anos, em 1942, eu vim para o Rio e ingressei na Central. Foi difícil esse princípio de vida. Chegava dia de domingo, eu tinha até medo. Eu saía, descia de onde eu morava e ia até o centro de Madureira, apavorado, morrendo de medo de não achar o caminho de volta.

Quando, enfim, entrei para a Locomoção, encontrei uma família. A seção em que eu trabalhava era uma família de 200 e poucos funcionários. Se um ficasse doente, faziam logo uma comissão para ir visitar o freguês lá. Tinha comissão de enterro, de batizado, de casamento, de tudo. Eu comecei trabalhando na seção de reparação de vagões, mas passei logo para a tornearia, onde fiquei até 1957. Foi preciso passar todo esse tempo para que eu realizasse o meu desejo de infância, o desejo de ser maquinista. Eu quase não cabia em mim quando peguei trem de passageiro e comecei a fazer viagens aqui pelo interior: Barra do Piraí, Volta Redonda, Japeri; dez, doze horas por dia. Tinha época que eu vivia mais dentro do trem do que dentro de casa. Era interessante: às vezes pegava um boi, um carneiro, um cavalo. Uma vez eu vi uma mulher na linha e buzinei, mas ela fez sinal de que sabia o que estava acontecendo. Não teve jeito. Aí veio a polícia e encontraram um bilhete suicida na bolsa dela. Sabe de uma coisa? Já faz vinte anos que eu estou aposentado, mas volta e meia eu ainda sonho que estou conduzindo um trem."

>> Este depoimento é parte integrante da exposição comemorativa dos 50 anos do BNDES, realizada na sede do Banco no Rio de Janeiro. A mostra, organizada pelo Museu da Pessoa, reúne histórias de um grande número de brasileiros que tiveram sua vida transformada pela ação do BNDES.



Outras:
. Raí - Diretor da Fundação Gol de Letra.
. NILDEMAR SECCHES - Ex-Diretor do BNDES
. Isac Zagury - Diretor do BNDES.
. FERNANDO PERRONE, ex-Diretor do BNDES e Sérgio Besserman, presidente do IBGE.
. EDUARDO MODIANO, ex-Presidente do BNDES
. Oscar José Gonçalves - Produtor cultural e Diretor de Artes Cênicas e Música da FUNARJ
. Sérgio Soares de Almeida - Entregador de Pizza na Rocinha (RJ)
. Ricardo Pinto Nogueira - Superintendente Bovespa
. Oldemar Alonso Cordeiro - Ferroviário Aposentado
. Marilda Martins Monteiro - Funcionária Pública aposentada
. Maria Pedroso Marcommim - Agricultora Paranaense
. José Benedeti Marcommim - Agricultor em Santa Terezinha de Itaipu (PR)
. João Bosco - Fotógrafo
. Gezo Rodrigues de Almeida - Produtor rural em Goiás
. Francisco Plácido Henriques - Gráfico paraibano
. Dora Isabel do Araújo Andrade - Fundadora da ONG Edisca
. Ademir Sebastião Longatti - Pároco em Tiradentes (MG)
. Henrique Morelenbaum - Maestro e professor
. Mauro Thibau, Ministro de Minas e Energia no período de 1964 a 1967
. Márcio Fortes - Ex-presidente do BNDES
. Lula Vieira, Publicitário, um dos diretores da V&S Comunicações
. Depoimentos sobre a desestatização
. Eleazar de Carvalho Filho - Presidente do BNDES
. Henrique Lessa - Caminhoneiro
. Rachel de Queiroz - Escritora
. Depoimentos Diversos
Projeto Memória / 1982