Juzoe Poubel Bastos

Sabendo que este ano o BNDES completaria seu cinquentenário aguardava o momento para tentar fornecer algumas informações relativamente aos seus primeiros anos, mas, como minha correspondência é remetida para Nova Friburgo, onde não estou permanentemente, somente no último dia 17 tomei conhecimento do Projeto Memória. Espero que, embora tardiamente, ainda possam ser aproveitadas, se de alguma utilidade.

Assim como em 2002 o BNDE completa seus 50 anos de existência, da mesma forma eu, como seu primeiro funcionário também completo 50 anos de BNDE.

Gostaria, destarte, de contar um pouco desta história, principalmente no que se refere aos primeiros anos, e para que as gerações mais novas não pensem que foi tão fácil como imaginam.

Ao ser promulgada a Lei que o criou, foram também emiti das portarias de nomeação dos componentes da Diretoria bem como dos respectivos Chefes de Departamento. Essas pessoas eram oriundas de diversos órgãos da Administração Federal, com a responsabilidade imediata de sua estruturação. Neste período ninguém mais foi nomeado ou admitido, ca bendo os serviços burocráticos ao pessoal da Comissão Mista Brasil Estados Unidos. O embrião do BNDE foi então instalado nas de pendências do Gabinete do Ministro da Fazenda, então o Embaixador Oswaldo Aranha, no 13 andar do prédio na Esplanada do Castelo.

Neste momento surgiu a necessidade de alguém para os serviços de manutencão e de limpeza, bem como outros pequenos afazeres externos e internos tais como servir cafezinhos. Há algum tempo meu pai, que era funcionário do Ministério, entrou em contato com D. Julieta Larica. Funcionária do Dasp e encarregada da parte administrativa do novo BNDE, no sentido de tentar arrumar uma vaga para um filho seu, adolescente que precisava trabalhar, e desta forma me tornei aquele pau-para-toda-obra dos dias iniciais, e portanto o primeiro empregado do BNDE, onde permaneci até minha aposentadoria em 1982.

Em 1953, já com o BNDE parcialmente estruturado, começaram a ser admitidos os demais funcionários, naquele momento simplesmente como cabide de empregos, pois que essas pessoas, na maioria muito jovens, filhos de famílias do poder, com muito pouca experiência, pouco produziam. As mulheres particularmente. A maioria solteiras, cada uma mais bonita que outra, misses daqui e dali. Os corredores que era onde mais permaneciam batendo papo, já então na Rua Sete Setembro, 48, pare cia uma passarela, ou a porta da Colombo, tão elegantemente se trajavam. Eu, mero "menino de recados" da Baixada Fluminense (termo que ainda não se usava), tentava me apresentar de forma condizente, para não ficar muito para trás.

A Lei 1620, de 20/06/1952, além de estabelecer os objetivos básicos, que era repassar os recursos do Acordo de Excedentes Agrícolas do Governo Americano, bem como de empréstimo obtido junto ao EXIMBANK para implantação da infra estrutura industrial brasileira, muito incipiente, estabelecia também que, tão logo os principais objetivos fossem alcançados, por volta de 1956, o BNDE seria automaticamente extinto. Pou ca gente sabia disso, mas os que sabiam viviam preocupados.

Quando o momento chegou, já no Governo do Presidente Juscelino, a insegurança era geral. Ninguém queria ficar desempregado, mes mo porque, já naquela época, o BNDE se afigurava como um dos melhores empregos do País. Por mais de um ano o suspense permaneceu.

Até que finalmente Juscelino, com seus ambiciosos Planos de Metas, descobriu que o BNDE era tudo de que precisava. Decidiu então não apenas lhe dar um pouco mais de vida (não estabeleceu quando ou se um dia seria extinto), como principalmente torná-lo mola mestra de seu Gover-no, transferindo para responsabilidade do Banco uma série de impostos e tributos, bem como todos os empréstimo externos, que passaram a ser bastan te. Neste momento o BNDE viveu seu esplendor.

Como nada porem é perfeito, impôs duas condições: 1 ? que todos os funcionários fossem concursados:

2 ? que tão logo Brasília ficasse pronta para lá nos mudaríamos.

Foi o período de maior sufoco. Quando surgiu o primeiro Concurso para Auxiliar Administrativo (a maioria dos interinos), todos se rebelaram. Achavam muito injusto, mesmo porque, como disse acima, poucos estariam devidamente habilitados. Alguns entraram na justiça a fim de tentar assegurar seus Direitos, que afinal nunca foram reconhecidos; outro tanto desistiu sumariamente e nem se inscreveram. Um grande número porém acei tou o desafio. Aqueles que não passaram nunca mais se ouviu falar deles.

No caso da mudança para Brasília a instabilidade e insegurança perdurou até meados dos anos setenta. Periodicamente surgia um novo boato dizendo que finalmente iríamos, sugerindo novas vantagens ou desvan tagens, como também novas datas fatais. No início até que me agradava: solteiro, sem responsabilidades até que seria uma aventura, principalmente as grandes vantagens que eram oferecidas. A partir de determinado momento, já casado e com filhos na escola até a mim assustava

De imediato, tão logo se iniciaram as obras da Capital, o Banco mandou construir a sua Sede, casas para os funcionários de nível mais baixo e apartamentos funcionais variados para os demais.

As obras foram concluídas. Era a hora da mudança. Quando foram feitas as vistorias para aprovação das construções, constatou-se que o alicerces de algumas casas estavam afundando e que outras estavam com infiltrações no piso. O Banco reclamou com a construtora, Severo e Villares, que se recusou a atender os reclamos. Foi necessária uma ação na justiça, que demandou muito tempo, que a mesma não honrou, mesmo porque veio a falir pouco depois.

O tempo foi passando e nada. Nesse meio tempo alguns pro fessores invadiram algumas das casas e mais tarde as demais. Outra ação e nada. O Banco então, já depois de 1964, cedeu parte de sua Sede á Polícia Federal (mais tarde SNI), que ali instalou seu serviço de censura, de tão desagra dável memória para a maioria dos brasileiros, principalmente para os intelec tuais e os órgãos de imprensa.

Mais tarde foram feitos outros projetos e agendamentos para mudarmo-nos até que finalmente no Governo Geisel ficou decidido que não haveria mais mudança e foi autorizada a construção da nova Sede onde hoje ela se encontra.

Esta é parte da história do BNDES que eu gostaria de deixar registrada para os mais recentes, mesmo porque, de outra forma ela nunca será sabida.

Há porem, no meu caso particular, um pouco de ironia.

Nunca em minha vida trabalhei para o BNDES, porém enquanto existiu BNDE para o mesmo trabalhei. Como da mesma forma nunca trabalhei na Sede nova e enquanto existiu Sede velha lá trabalhei.

A explicação é simples. No dia que me aposentei, 15 de fevereiro de 1982, o Presidente Figueiredo criou o FINSOCIL e deu ao Banco a responsabilidade de geri-lo, acrescentando, destarte, um S ao BNDE. Esta a razão porque somente me refiro a BNDE, que é a parte da minha história.

Por outro lado, quando me aposentei, trabalhava no Departamento de Sistemas que, devido suas peculiaridades, dependeu previamente de mais obras que os demais, se tornando portanto o último a mudar-se, o que ocorreu no mesmo dia 15/02/82 que me aposentei.

Desta forma são três fatos concomitantes que pelo menos a minha vida afetou.

Para mais informações, me ponho à disposição através do telefone (021) 2274-3711.



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